
Quem já trabalhou com projetos de arquitetura e interiores sabe que um dos maiores desafios é a fase do executivo. Afinal, o que exatamente deve constar em um projeto executivo de interiores? Quais pranchas são obrigatórias? Quais detalhes precisam estar ali para que a obra seja executada sem erros? E, principalmente: o que é perda de tempo e pode ser evitado?
Neste artigo vamos abrir um projeto real entregue a um cliente, compartilhar nossa experiência de obra e explicar passo a passo tudo o que incluímos — e também o que deixamos de fora — para garantir clareza, eficiência e assertividade. Nossa abordagem vem da prática: ouvindo fornecedores, analisando dúvidas recorrentes e refletindo constantemente sobre como entregar projetos mais didáticos e funcionais.
O que é e para que serve o projeto executivo de interiores
Antes de entrar nos detalhes técnicos, vale esclarecer: o projeto executivo de interiores é o conjunto de pranchas e documentos que orienta a execução da obra. Ele é diferente do projeto preliminar, que é mais conceitual e focado na estética. O executivo é a tradução do conceito em informações práticas, que guiam marceneiros, marmoristas, eletricistas, gesseiros e demais profissionais.
Em outras palavras, o executivo é o “manual de instruções” da obra. Se ele for bem feito, a execução flui sem ruídos, evitando retrabalho, dúvidas e improvisos. Se for mal feito, sobra para o arquiteto ou designer apagar incêndios no canteiro de obras.
Por que otimizar o projeto executivo
Muitos profissionais ainda acreditam que quanto mais pranchas e detalhes, melhor. Nós pensamos diferente. Mais não é sinônimo de melhor. O que realmente importa é a clareza da comunicação. Entregar vinte pranchas cheias de informação redundante pode confundir mais do que ajudar.
A nossa filosofia é simples: detalhar o necessário para garantir a execução correta e deixar de fora o que não será usado. Isso poupa tempo de quem desenha e de quem executa. No fim, todos ganham — principalmente o cliente, que terá uma obra mais ágil e sem desperdícios.
Estrutura básica de um projeto executivo de interiores
No projeto que usamos como exemplo aqui, referente a um apartamento de pouco mais de 70 m², organizamos tudo em apenas nove pranchas. E sim, foi suficiente para garantir a execução completa da obra. Veja como estruturamos:
1. Pranchas iniciais: plantas gerais
O projeto começa sempre com as plantas gerais, que dão a visão completa do apartamento. Elas incluem:
Planta de demolir e construir
Planta de piso e revestimento
Planta de pintura
Planta elétrica
Planta hidráulica
Planta de ar-condicionado
Planta de gesso e iluminação
Se não couber tudo em uma prancha, dividimos em duas. O importante é que, já nessa primeira parte, todos tenham uma visão global do apartamento.
2. Organização por ambientes
Depois das plantas gerais, passamos para os ambientes. Aqui, um detalhe fundamental: quando os ambientes são integrados, nós apresentamos juntos. No caso deste apartamento, a área social incluía sala, cozinha e varanda. Em vez de separar em pranchas diferentes, unificamos tudo em uma sequência lógica.
Essa decisão evita duplicar informações e facilita a leitura. Imagine separar varanda e cozinha em pranchas diferentes: como explicar a transição de um ambiente para outro? Ou ter que repetir a mesma informação em duas pranchas? Unificar resolve esses problemas e traz clareza.
3. Planta detalhada por ambiente
Cada prancha de ambiente começa com uma planta detalhada, incluindo:
Medidas gerais e eixos de referência
Acabamentos previstos (pedras, pinturas, revestimentos)
Indicação das vistas
Pontos de elétrica, hidráulica e iluminação
Essa planta já concentra grande parte das informações que os profissionais precisam. A partir dela, seguimos para as vistas.
4. Vistas sobrepostas: clareza em dobro
Adotamos um método de vistas sobrepostas que facilita muito o entendimento. Funciona assim: na parte superior, mostramos a parede sem marcenaria, marmoraria ou eletros. É a versão “crua”, destacando pintura, revestimentos e pontos de elétrica. Logo abaixo, apresentamos a mesma parede já com os móveis e acabamentos instalados.
Esse recurso é essencial porque permite visualizar interferências. Por exemplo: atrás de um armário pode haver um quadro de energia. Com a vista sobreposta, tanto o eletricista quanto o marceneiro sabem disso e conseguem planejar a execução corretamente. É comunicação visual direta, sem margem para dúvidas.
5. Detalhes que realmente importam
Não detalhamos tudo, mas sim o que é relevante para a execução. Exemplos típicos:
Tomadas atrás de eletrodomésticos
Interruptores embutidos em marcenaria
Medidas de tampos, frontões e cubas
Nichos em banheiros e estantes
Esses são pontos críticos que, se não forem bem indicados, geram erros e retrabalho. Em contrapartida, uma parede com pintura simples e uma tomada já está explicada nas plantas gerais — não precisa de vista própria.
6. Perspectivas como ferramenta didática
As perspectivas são as preferidas dos fornecedores, mas também um ponto de atenção. Nós as utilizamos de forma estratégica: como recurso didático, sem excesso de cotas. Nelas, destacamos apenas:
Profundidade de elementos
Pontos importantes com linhas de chamada
Indicação de tomadas e iluminação
Dessa forma, garantimos que fornecedores visualizem o espaço, mas continuem consultando vistas e plantas para as medidas precisas. É um equilíbrio que evita erros de interpretação.
Casos práticos: quando o projeto fala por si
Um exemplo claro de como o executivo bem estruturado faz diferença aconteceu em uma obra com várias paredes em drywall. Esquecemos de especificar o reforço necessário para receber uma pedra. Poderia ter sido um problema sério. Mas como o gesseiro viu o projeto completo, percebeu a necessidade e fez o reforço sem precisarmos pedir. O resultado? Problema resolvido antes de virar dor de cabeça.
Outro caso comum: fornecedores que questionam medidas ou detalhes. Quando isso acontece, temos uma regra no escritório: se a dúvida chegou e não conseguimos abrir a prancha, circular a resposta e enviar, significa que falhamos na comunicação. Isso nos obriga a rever o projeto e incluir essa informação nos próximos trabalhos.
Otimização: como ganhar tempo sem perder qualidade
Uma das maiores lições que aprendemos é não gastar tempo em vistas desnecessárias. Se uma parede terá apenas pintura e uma tomada, já está resolvido na planta de pintura e elétrica. Fazer uma vista só para isso não agrega nada. Esse tipo de otimização pode parecer pequeno, mas no acumulado economiza muitas horas de trabalho de equipe.
Outra otimização importante é padronizar legendas e detalhes que usamos em praticamente todos os projetos. Por exemplo, temos um modelo padrão de puxadores. Em 99% dos casos, usamos esse mesmo modelo. Então não perdemos tempo desenhando cada vez — apenas indicamos como padrão. Só detalhamos quando realmente criamos algo novo.
Boas práticas para projetos executivos de interiores
Ao longo dos anos, desenvolvemos algumas práticas que fazem toda diferença na clareza dos nossos executivos:
Padronize legendas e símbolos para que todos os projetos sigam a mesma lógica visual.
Converse com fornecedores e pergunte o que realmente é útil para eles nas pranchas.
Reveja cada dúvida recebida como oportunidade de melhorar seu processo.
Crie checklists internos para garantir que nenhum detalhe crítico seja esquecido.
Evite repetição de informações: cada medida deve aparecer apenas uma vez, no lugar correto.
O lado humano do projeto executivo
Além da parte técnica, o projeto executivo também tem um lado humano: a comunicação. Quando ouvimos fornecedores e levamos em consideração as críticas, mesmo as mais duras, crescemos como profissionais. A maioria das vezes, dúvidas surgem porque o profissional não olhou a prancha com atenção. Mas em alguns casos, é sinal de que poderíamos ter comunicado de forma mais clara.
Ter essa abertura para rever processos faz toda diferença. É isso que nos permite chegar a um modelo otimizado, prático e realmente funcional.
Conclusão
O projeto executivo de interiores é a ponte entre o conceito criativo e a obra finalizada. Ele precisa ser objetivo, claro e completo o suficiente para guiar todos os profissionais envolvidos. Mas isso não significa detalhar além da conta: é preciso encontrar o equilíbrio entre didática e otimização.
Ao organizar suas pranchas de forma lógica, priorizar informações realmente relevantes, trabalhar com perspectivas bem pensadas e ouvir constantemente o feedback dos fornecedores, você garante não apenas a qualidade do projeto, mas também a fluidez da execução.
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E você? Como tem estruturado seus executivos de interiores? Já passou por situações em que excesso ou falta de detalhamento atrapalharam a obra? Compartilhe sua experiência nos comentários e vamos trocar ideias!