5 Coisas que Eu Queria que Tivessem Me Contado Antes de Abrir um Escritório de Arquitetura

25 de out. de 2025

5 Coisas que Eu Queria que Tivessem Me Contado Antes de Abrir um Escritório de Arquitetura

25 de out. de 2025

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Quando a gente decidiu abrir o nosso próprio escritório de arquitetura, a primeira sensação foi empolgação. Aquela vontade de fazer do nosso jeito, criar um ambiente que refletisse nossa identidade e finalmente viver de projetos que fizessem sentido. Mas o que a gente não imaginava é que, junto com essa liberdade, vinha uma carga enorme de responsabilidades, decisões e aprendizados que ninguém ensina na faculdade.

Hoje, depois de alguns anos de estrada, reunimos as cinco lições mais importantes que aprendemos na prática. São aprendizados que nasceram de erros, acertos, noites em claro e, principalmente, da experiência real de tocar um escritório. Se você está pensando em abrir o seu ou acabou de começar, essas reflexões vão te poupar de muita dor de cabeça.

1. Aprender a se vender é essencial (e ninguém te ensina isso)

Essa foi, sem dúvida, a primeira grande virada de chave que tivemos. Aprender a se vender é uma das habilidades mais importantes — e, ao mesmo tempo, mais negligenciadas — na formação de um arquiteto. A faculdade ensina técnica, estética e conceito, mas não ensina a mostrar o valor do seu trabalho.

Logo que começamos, percebemos que fazer um bom projeto não bastava. Era preciso comunicar o porquê do valor, transmitir confiança e mostrar que o que entregamos vai além de um layout bonito. O cliente precisa sentir segurança em investir no nosso trabalho — e essa segurança nasce da forma como nos apresentamos, falamos e conduzimos o processo.

O Ralph costuma dizer que a venda não começa quando o cliente pede o orçamento, mas muito antes — na forma como a gente se posiciona, nas conversas informais, na presença digital e até no modo de se vestir. Tudo comunica profissionalismo (ou a falta dele). E isso não tem nada a ver com ostentação, e sim com coerência entre o que a gente fala e o que a gente entrega.

Como transformamos isso em prática

No nosso escritório, criamos um verdadeiro ritual de recepção para clientes. Pode parecer um detalhe, mas faz toda diferença. O café é servido em xícaras com frases que têm a ver com o nosso trabalho, o ambiente é preparado para ser acolhedor e, mais importante, mostramos organização e método desde o primeiro contato. O cliente precisa sair da reunião com a sensação de que somos confiáveis e detalhistas — e que o projeto dele está em boas mãos.

Além disso, nas reuniões de apresentação, nunca mostramos só as imagens de portfólio. Mostramos também como trabalhamos. Explicamos as etapas, os processos, os bastidores. É nesse momento que o cliente percebe o valor de ter um escritório estruturado, e não apenas um profissional talentoso. Essa clareza na comunicação faz toda a diferença na hora da decisão.

O que aprendemos com isso

  • Venda é construção de confiança, não imposição.

  • Pequenos gestos e detalhes criam empatia e autoridade.

  • Mostrar método é tão importante quanto mostrar estética.

Depois que aplicamos isso, percebemos uma mudança significativa: os clientes chegavam mais decididos, confiantes e dispostos a investir. Porque vender bem não é manipular, é deixar claro o valor real do que se faz.

2. O cliente compra segurança, não apenas estética

Com o tempo, aprendemos uma verdade simples: o cliente compra segurança, não só beleza. É claro que a estética importa — afinal, estamos no negócio de criar espaços bonitos e funcionais. Mas o que faz o cliente fechar o contrato é a confiança de que o arquiteto sabe o que está fazendo e vai cuidar bem de tudo.

Essa segurança vem do nosso posicionamento. Quando o cliente percebe que a gente domina o assunto, entende os prazos, conhece os fornecedores e sabe prever problemas, ele relaxa. E é isso que ele quer: alguém que resolva, não que complique.

E isso inclui saber dizer não. Muitas vezes o cliente chega com ideias que, na prática, não funcionam — medidas incorretas, orçamentos irreais, escolhas que comprometem a execução. No começo, a gente tentava agradar e acabava se enrolando. Hoje, aprendemos a colocar os limites com firmeza e empatia.

Um exemplo real

Já tivemos clientes que insistiram em soluções de projeto que sabíamos que trariam problemas. E nesses casos, explicamos tecnicamente o motivo, mostramos as consequências e, se ainda assim o cliente quisesse seguir, formalizávamos por e-mail. Isso não é rigidez — é responsabilidade. No fim, quando o problema não acontece, ele lembra que foi a nossa orientação que evitou o prejuízo. E se acontecer, ele sabe que foi uma escolha consciente.

Essa postura profissional faz com que o cliente respeite o nosso trabalho e entenda o valor da orientação técnica. Porque, no fundo, ele não quer um “sim”, ele quer alguém que o guie com segurança.

Dicas que mudaram nossa relação com os clientes

  • Explique sempre o “porquê” por trás de cada decisão técnica.

  • Não confunda agradar com ceder — empatia não é submissão.

  • Deixe tudo claro por escrito. Comunicação transparente evita conflitos.

3. Projetar leva menos tempo do que gerenciar

Talvez essa tenha sido uma das maiores surpresas de todas. A gente imaginava que abrir um escritório seria sinônimo de criar projetos incríveis, passar dias desenhando e vivendo de criatividade. Mas na prática, descobrimos que o tempo de projetar é menor do que o tempo de gerenciar.

Gerenciar um escritório é administrar pessoas, fornecedores, finanças, cronogramas, contratos e expectativas — tudo ao mesmo tempo. E nada disso é ensinado na faculdade. A gente aprende na marra, errando, testando e ajustando processos.

No início, essa parte parecia pesada. A gente sentia falta de “fazer arquitetura” no sentido mais artístico. Mas com o tempo, entendemos que essa gestão também é parte da arquitetura. Porque um projeto bem gerido é aquele que chega até o fim com qualidade, sem desgaste e com lucro.

Como foi essa transição

Nos primeiros anos, fazíamos tudo: orçamento, contrato, desenho, acompanhamento, atendimento, financeiro. Era exaustivo. Mas à medida que o escritório cresceu, fomos delegando funções e criando processos. Hoje, cada pessoa da equipe tem um papel claro — e o nosso papel é garantir que tudo flua.

Isso não significa que deixamos de criar, mas que a criação acontece de forma mais estratégica. A gestão virou nossa ferramenta de liberdade: quanto mais organizada a base, mais tempo sobra para pensar e inovar.

O que ninguém te conta

  • Você vai precisar aprender sobre precificação, fluxo de caixa e marketing.

  • Mesmo com equipe, a responsabilidade final é sua.

  • Gestão é o que separa o arquiteto autônomo do arquiteto empreendedor.

Hoje, olhamos para trás e vemos que o crescimento do escritório veio exatamente quando aceitamos esse papel de gestores. Parar de lutar contra essa realidade foi libertador.

4. Você vai ganhar mais — mas também vai ter muito mais custos e responsabilidades

É natural pensar que abrir um escritório vai trazer independência financeira. E sim, de certa forma traz. Mas o que ninguém te conta é que esse dinheiro vem com uma série de novos custos e pressões que mudam completamente o jogo.

Quando você tem um escritório, o mês começa com boletos — e não com receitas. É aluguel, luz, água, internet, softwares, manutenção, impostos, gasolina, salários, férias, décimo terceiro... É uma lista que parece não ter fim. E tudo isso precisa ser pago, independentemente de quantos projetos estejam entrando.

Essa consciência financeira foi uma das mais difíceis de desenvolver. No começo, achávamos que bastava trabalhar muito. Mas percebemos que o esforço precisa vir acompanhado de estratégia, planejamento e reservas.

O Ralph sempre diz: “no dia em que você percebe que começa o mês devendo, você entende o que é ter um negócio de verdade”. E é exatamente isso. Porque é aí que entra a mentalidade empreendedora — pensar no escritório como uma empresa, e não apenas como um espaço de criação.

Como lidamos com essa realidade

  • Fizemos planilhas detalhadas de custos fixos e variáveis.

  • Criamos metas mensais e trimestrais de captação e entrega.

  • Construímos uma reserva de emergência específica para o escritório.

Ter clareza sobre os números muda tudo. Deixa de ser um tiro no escuro e passa a ser um planejamento consciente. E o mais importante: nos dá tranquilidade para focar na qualidade do trabalho sem entrar em pânico a cada oscilação de caixa.

5. Você vai errar — e isso não te torna um arquiteto ruim

De todas as lições, essa é a que mais nos acompanha até hoje. Você vai errar. E tudo bem. Nenhum arquiteto, por mais experiente que seja, está imune a falhas. Às vezes o erro vem de um detalhe técnico, às vezes de um fornecedor, às vezes de uma comunicação mal feita. O importante é como você reage.

No nosso escritório, criamos uma regra simples: quando algo dá errado, a gente para tudo e analisa juntos. Não é caça às bruxas. É aprendizado coletivo. Discutimos o que aconteceu, o que poderíamos ter feito diferente e como evitar repetir o erro.

Além disso, criamos uma reserva que apelidamos de “fundo do Deus me livre”. É um valor guardado justamente para cobrir imprevistos de obra ou de cliente. Ele nos dá segurança para resolver o problema sem desespero e sem afetar o fluxo de caixa.

Essa mentalidade muda completamente a forma de lidar com o erro. A gente deixa de agir com culpa e passa a agir com responsabilidade. Porque errar faz parte, repetir o erro é escolha.

O que aprendemos com os erros

  • Errar é inevitável, mas repetir é opcional.

  • Resolver rápido é melhor do que justificar muito.

  • Transparência com o cliente é sempre o melhor caminho.

O erro, no fim das contas, nos tornou mais fortes e empáticos. Aprendemos a antecipar riscos, a comunicar melhor e a entender que falhas pontuais não definem a qualidade do nosso trabalho — o que define é a forma como reagimos a elas.

Conclusão

Abrir um escritório de arquitetura é uma das decisões mais desafiadoras e transformadoras da carreira de um arquiteto. É o ponto em que a paixão pela criação se encontra com a necessidade de gestão. Onde o idealismo se equilibra com o pragmatismo. E onde a cada obstáculo surge uma nova chance de amadurecer.

Essas cinco lições não vieram de livros, mas de vivência real. De erros, tentativas e muita persistência. Se tivéssemos ouvido tudo isso antes, talvez tivéssemos evitado algumas dores de cabeça — mas também sabemos que cada tropeço nos fez crescer e entender melhor o que significa ser arquiteto de verdade.

Se você está nesse caminho, lembre-se: vai dar trabalho, vai dar medo às vezes, mas também vai dar orgulho. E no final, ver o escritório funcionando, os clientes felizes e a equipe crescendo é a maior recompensa.