
Trabalhar com quem a gente ama é incrível, desafiador e, principalmente, um exercício diário de parceria. Neste artigo, abrimos nossa “DR de projeto” para compartilhar de forma sincera como é ser casados, arquitetos e sócios há anos. O objetivo é ajudar outros casais que trabalham juntos a encontrar equilíbrio entre relacionamento e trabalho, sem perder a essência, a leveza e a produtividade.
Por que contar nossa história
Quando começamos, nós já estávamos juntos como casal, mas abrir o escritório trouxe um novo nível de convivência. São muitas decisões, prazos, obras, clientes, fornecedores e desafios. Dividir tudo isso como sócios exige regras claras, comunicação e — acima de tudo — respeito.
Se você está pensando em sociedade entre casais ou já vive isso, esperamos que nossos acertos e tropeços encurtem seu caminho. Aqui tem aprendizados reais, não teorias.
DR de projeto vira DR de casal?
Resposta curta: às vezes, sim. Resposta completa: depende do contexto e de como cada um lida com pressão. Nós aprendemos que as discussões mais intensas quase sempre nascem do trabalho e, frequentemente, acabam indo para casa quando não delimitamos bem os espaços.
Com o tempo, adotamos um combinado simples: discussões de trabalho são tratadas como trabalho. No escritório, mantemos o tom profissional. Em casa, priorizamos a família e a nossa relação. Parece óbvio, mas só funciona quando vira cultura.
O papel da intimidade no escritório
Entre nós, a intimidade facilita a franqueza. E isso é bom. O risco é “passar do ponto”. Já aconteceu de falarmos com o outro de um jeito que não falaríamos com mais ninguém. O antídoto é estabelecer limites e revisar comportamentos.
Críticas em público, não. Feedbacks, sim — mas em particular.
Abrimos espaço para discordar, sem invalidar o outro.
Se algo azedou, pausamos a conversa e retomamos no horário certo.
Quem faz o quê: divisão de papéis que funciona
Uma das decisões mais inteligentes que tomamos foi a divisão clara de responsabilidades. Isso reduz atritos, acelera entregas e evita cobranças desnecessárias.
Arquitetura x Interiores
Arquitetura: fase técnica e construção ficam mais com ele.
Interiores: acabamentos, materiais e detalhamento ficam mais com ela.
Obra: quem lidera varia conforme o tipo de projeto; ambos participam dos pontos-chave.
“Parte legal” x “parte chata” — com carinho
Ela: marketing, Instagram, posicionamento e relacionamento.
Ele: aprovações em prefeitura, jurídico, financeiro e a engenharia do dia a dia.
A graça é que, mesmo chamando de “parte chata”, a verdade é que alguém precisa amar os bastidores. E aqui rola essa complementaridade.
Treinamento da equipe: nosso “GPS da obra”
Todo mundo que entra passa por um roteiro de treinamento com base no nosso curso interno — o GPS da obra. Isso padroniza processos, reduz erros e acelera a curva de aprendizado.
Reuniões de feedback, sempre que possível, fazemos juntos.
Estagiários são apoiados pela própria equipe, que assume funções de mentoria.
Buscamos versatilidade: aqui, todo mundo é multitarefa.
Erros, aprendizados e a cultura de solução
Errar acontece. E quando acontece, o problema é da empresa, não de uma pessoa. Tornamos cada incidente um estudo de caso interno para que todo mundo aprenda e o erro não se repita.
Como transformamos erros em ativos
Transparência: compartilhamos o ocorrido com a equipe.
Raiz do problema: diagnosticamos o “porquê” e não apenas o “o quê”.
Contramedida: criamos checklists e revisões específicas.
Registro: documentamos as lições e atualizamos o “GPS”.
Resultado: prejuízos raros, soluções ágeis e um time que cresce junto. Experiência conta, claro. E aqui entra um talento dele: resolver pepino com calma. Às vezes, quando parece que só quebrando e refazendo, ele chega com um “ajuste técnico” e salva o dia. Gambiarra? Só quando fica feio. Se fica bonito e correto, é ajuste técnico.
A nossa pior briga de trabalho (e o que ela ensinou)
Contexto: auge da “modinha das curvas” nos projetos. Ela queria uma base de alvenaria curva para acompanhar a ilha. A dúvida era o melhor revestimento. Atrasos, pressa e expectativa de resposta rápida. Ele, por perfil, precisa de tempo para decidir com segurança.
O desencontro virou atrito, a cobrança subiu o tom na frente da equipe e ficamos dias sem nos falar. Dói lembrar? Um pouco. Mas dali nasceu uma regra fundamental:
Tom profissional no expediente.
Cobranças complexas, só em particular.
Agenda clara para decisões que exigem análise técnica.
Hoje, quando surge um impasse técnico, combinamos prazos realistas e pontos de checagem. E, se o assunto é sensível, resolvemos a portas fechadas.
A maior alegria: comprar e reformar nossa sala
Um marco para qualquer casal empreendedor é conquistar o próprio espaço. Para nós, comprar e reformar a sala do escritório foi um divisor de águas. Planejamos cada detalhe, suamos a camisa e entregamos um lugar com a nossa cara. A obra trouxe desafios, claro, mas também reafirmou nossa capacidade de criar juntos — e crescer.
Outro sinal de maturidade veio quando percebemos que o espaço começa a ficar pequeno. Crescimento saudável é isso: quando a estrutura pede o próximo passo e a energia continua lá em cima.
Os perrengues que nos moldaram
Nem tudo depende de nós. Duas experiências com fornecedores nos testaram como gestores e como casal. Em um caso, a empresa parceira faliu. No outro, atrasos severos ameaçaram cronogramas de clientes que confiavam no nosso trabalho.
O que fizemos na prática
Assumimos duas obras para finalizar sem custo extra para o cliente.
Nosso time replanejou etapas e redistribuiu tarefas.
Ficamos mais atentos a sinais de risco em parceiros.
Reforçamos contratos, garantias e planos B.
Foi pesado? Foi. Exigiu energia emocional e muitas horas a mais, especialmente dele. Mas saímos fortalecidos. Clientes viraram evangelizadores. E a lição ficou: problema também é oportunidade — de evoluir processos e de mostrar quem você é quando dá ruim.
Regras que preservam o casal e potencializam a sociedade
Com o tempo, criamos um pequeno “manual de convivência” para casais sócios. Simples, direto e eficaz.
Nosso manual
Trabalho no trabalho: problemas são resolvidos em horário comercial.
Boas notícias, sempre: até fora do expediente, novidades positivas são bem-vindas.
Sala separada, cabeça oxigenada: ter espaços diferentes no escritório ajuda.
Agenda de casal é sagrada: programamos momentos em família e lazer.
Funções definidas: cada um sabe o que é seu e confia no outro.
Feedback respeitoso: nunca em público, nunca no calor do momento.
Complementaridade: o segredo da sociedade entre casais
Uma palestra recente reforçou uma crença nossa: o sócio ideal não é quem é igual a você, é quem te complementa. Aqui, isso é nítido. Ela domina interiores, comunicação e marketing. Ele brilha na técnica, em obra, financeiro e jurídico. As zonas de excelência não competem — se somam.
Na prática, isso significa que, quando um está resolvendo algo, o outro já está avançando em outra frente. Ninguém fica desguarnecido. E a empresa anda.
Confiança acima de tudo
No fim do dia, a confiança entre cônjuges é um ativo poderoso. Em decisões financeiras, de equipe e de posicionamento, ter um parceiro que compartilha valores e visão encurta caminhos e dá tranquilidade.
Processos que reduzem atritos
Para que relacionamento e trabalho coexistam bem, criamos processos enxutos e claros. Eles tiram do improviso o que deveria ser previsível.
Nossos essenciais
Checklist por fase: anteprojeto, executivo, compatibilização e obra.
Ritos semanais: reunião de pauta, reunião de obra e revisão de pendências.
Matriz de decisão: define quem decide o quê e em quanto tempo.
Padrões de comunicação: mensagens objetivas, canais definidos, histórico organizado.
Esses hábitos preservam energia emocional, dão previsibilidade à equipe e deixam espaço para o que mais importa: criar e atender bem.
Checklist rápido para casais empreendedores
Temos divisão clara de papéis e entregas?
Nossos conflitos são tratados em particular e em horário comercial?
Existe um calendário de momentos de casal e família?
Temos processos para reduzir erros e documentar aprendizados?
Há plano B para fornecedores críticos?
Estamos medindo satisfação de clientes e da equipe?
Ferramentas e rotinas que nos ajudam
Não existe ferramenta mágica, mas algumas escolhas operacionais fazem diferença no dia a dia dos casais que trabalham juntos.
Treinamento contínuo: o “GPS da obra” virou base da nossa cultura.
Kanban de projetos: visualizamos status, responsáveis e prazos.
Templates de comunicação: e-mails, ata de reunião e checklist de obra.
Revisões cruzadas: em pontos críticos, um revisa o trabalho do outro.
Conflitos inevitáveis, rupturas opcionais
A briga das curvas mostrou que o problema nunca foi o design — foi a gestão do tempo de decisão e do tom. Hoje, quando um precisa de tempo, o outro oferece margem. Quando um precisa de resposta rápida, o outro negocia prazo realista e informa status.
Em resumo: conflito técnico é matéria-prima de um projeto melhor. Conflito de ego é areia na engrenagem. A diferença está no processo e no respeito.
Indicadores que acompanhamos
Para não depender do “feeling” na gestão, olhamos para dados simples, porém valiosos.
Lead time de projeto: do briefing à entrega.
Retrabalho por etapa: onde erramos e por quê.
Satisfação do cliente: NPS e feedback qualitativo.
Saúde financeira: fluxo de caixa, inadimplência e margem por projeto.
Esses números nos mostram se nossas regras e processos estão funcionando — e onde ajustar.
Boas práticas para quem está começando
Se você e seu parceiro estão prestes a abrir uma empresa, anotem alguns atalhos, fruto de muitos aprendizados na marra.
Definam missão e posicionamento: que tipo de trabalho querem atrair?
Façam um acordo de sócios: inclusive cenários de saída e critérios de retirada.
Planejem o financeiro: mínimo de reserva e política de distribuição.
Escolham poucas métricas-chave: e revisem mensalmente.
Blindem o relacionamento: terapia, mentoria ou ritos de conversa.
Erros que aprendemos a evitar
Trazer briga para a frente da equipe: mina confiança e clima.
Decidir no impulso: curto prazo manda a conta depois.
Depender de um único fornecedor crítico: risco concentrado.
Falta de documentação: sem registro, o erro volta.
Quando o escritório entra em casa
Como todo casal empreendedor, às vezes trabalhamos fora do horário comercial. A diferença é que escolhemos o que entra em casa. Boas notícias, ideias e sonhos? Sim. Problemas pendentes? Não. Essa simples curadoria preserva nossa energia e faz a casa continuar sendo casa.
Histórias que nos lembram por que estamos juntos
Lembra da obra da nossa sala? Teve de tudo: suor, decisões difíceis, ajustes técnicos e, no final, um espaço que conta nossa história. Foi cansativo, mas foi lindo. E ver o escritório começar a “ficar pequeno” é um sinal de que a parceria está dando certo.
Também tivemos clientes que passaram conosco por perrengues de fornecedores e, mesmo assim, se tornaram grandes promotores do nosso trabalho. Isso não tem preço. Isso é sobre confiança construída no dia a dia.
Perguntas frequentes de casais sócios
1) Como evitar que o trabalho engula o relacionamento?
Agenda. Bloqueie horários de casal e família como compromisso profissional. Resolva problemas no expediente e não leve para o jantar.
2) O que fazer quando discordamos tecnicamente?
Definam uma matriz de decisão: quem decide o quê e com base em quais critérios. Se o tema é técnico, respeitem o owner daquela área.
3) E quando a equipe erra?
Transforme em aprendizado coletivo. Registre o caso, ajuste o processo e compartilhe as lições. Erro repetido é falha de sistema, não de pessoa.
4) Como lidar com fornecedores problemáticos?
Mantenha plano B, acompanhe indicadores de entrega e tenha contratos claros. Se der ruim, comunique rápido ao cliente e ofereça solução.
5) Como alinhar expectativas financeiras?
Tenham metas, políticas de retirada e reservas definidas. Transparência evita ruído e fortalece a confiança.
Conclusão
Trabalhar lado a lado com quem amamos é uma jornada de construção — de projetos, de processos e, principalmente, de nós mesmos. Quando casais que trabalham juntos tratam o negócio com profissionalismo e o relacionamento com carinho, a soma é potente. Regras simples, funções claras e uma cultura de aprendizado constante protegem a relação e impulsionam a empresa.
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